quarta-feira, 2 de novembro de 2011

À morte

Senhora, sei que minha súplica por sua chegada se estabelece pela densidade que tomaram-me as dores. O que não sei é se estas foram em mim plantadas por suas mãos. Penso que não.
Agora,na noite estrenhamente gélida, úmida pelas lágrimas cansadas de banhar nossos rostos, cuspir nossos sentimentos, só penso em Ti, dama. Como seria bem vinda...
Convido-te a abraçar-me, a beijar minha alma e levá-la junto a Ti, para perto do Teu assento, onde, talvez, pela bondade que possa existir no Velho Destino, pela piedade de Deus, eu finalmente não serei encomodada por estas dores. Não por estas. Poderei então olhar para o passado e me desvincular das gargalhadas de escárnio do tempo, poderei? Também penso que não.
Morte, querida Morte, o que pensas? Seremos nós mais serenas se enfim nos encontrarmos, se enfim traçarmos o laço eterno que nos atrai? Seremos nós mais plenas? Serei eu mais plena? Eu com toda esta aura de egoísmo sobrevoando ao meu redor?
Morte, querida, venha me encontrar, se nao formos assim perfeitas, descarta-me, atira-me do seu fogo. Mas, Morte, querida, não deixe com que sofram, não deixe.

Um comentário:

  1. Como disse Adam Warlock:

    "A morte não me assusta. É a vida que eu temo. Não quero ser mais uma vítima dela."

    O mais filosófico, existencialista e depressivo de todos os super-heróis dos quadrinhos sabia que morrer é o alívio. O problema é o sofrimento que o antecede.

    Parabéns. Você sabe escrever um texto gótico.

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